segunda-feira, 4 de maio de 2009

Jovens, Negros, Índios, Rebeldes e Competentes

Palestra de Boaventura dos Santos inspira reflexões sobre militância e diversidades

A militância dos jovens negros e indígenas hoje é demonizada pelos meios de comunicação, que descontextualizam as lutas e julgam de forma deturpada seus atos. A assistente social Cláudia Correia refletesobre o tratamento dos movimentos sociais juvenis na mídia.

Dia 13 de agosto de 2008, tive o privilégio de assistir na Reitoria da UFBA, em Salvador, a aula aberta do professor Boaventura Sousa Santos, doutor em Sociologia do Direito e professor titular da Universidade de Coimbra. Considerado o principal intelectual das Ciências Sociais hoje, o professor tem se interessado em pesquisar a diversidade cultural no Brasil, as experiências de democracia representativa como o Orçamento Participativo de Porto Alegre e as favelas do Rio de Janeiro. Dentre seus livros, A Crítica da Razão Indolente e Pela Mão de Alice. O grande saque do convite ao professor partiu do Curso Avançado sobre Relações Étnicas e Raciais Fábrica de Idéias, do CEAO- Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA.

Ao abordar o tema “Direitos Humanos, Multiculturalismo e Descolonização”, ele defendeu o Sistema de Cotas para índios e negros nas universidades brasileiras, mas alertou que deve ser passageiro, parte de uma política mais efetiva de inclusão social. Denunciou o nosso olhar colonizador sobre as minorias políticas, chamou todos para investir na formação de “rebeldes competentes” que apostem numa sociedade plural, igualitária, justa, com direitos coletivos. Sobre o sistema capitalista, criticou as desigualdades sociais e a dominação do mercado econômico sobre o mercado político que gera a corrupção nefasta à democracia.

Lembrei de imediato da luta dos quilombolas, dos estudantes, dos jovens, negros e índios, das mulheres, dos trabalhadores sem terra. Me dei conta, concordando com Boaventura, o quanto a mídia em geral tem “demonizado” suas ações, reforçado estereótipos, criado representações e sentidos como se ameaçassem a ordem e a soberania nacionais.

Reportei no tempo em que a militância na ANAI - Associação de Ação Indigenista, me aproximou, nos anos 80, dos índios Kiriri, Pankararé, Pataxó, Pataxó Hã Hã Hãe e Tuxá e de sua incansável batalha para recuperar territórios invadidos, dignidade, direitos usurpados. Com o nosso apoio, foram formados monitores de alfabetização, trabalho baseado na obra de Paulo Freire, valorizando a cultura local. Aqueles jovens viraram multiplicadores e muitos vieram depois para seguir lendo com outros olhos o mundo. Aprendi muito com essa experiência, como jovem branca, universitária, de classe média, pude compreender na época, que precisamos construir com práticas comunitárias inovadoras um novo projeto social. Hoje retomo meu projeto de ajudar a formar “rebeldes competentes” como afirma o professor Boaventura, contribuindo para que jovens sejam protagonistas, assumam como sujeitos a história de nosso país. Certamente com eles continuarei aprendendo a alimentar minha “utopia realista” por um Brasil plural.

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