terça-feira, 24 de julho de 2012

PAULINHO DO AREAL - 13154

Paulo César Cardoso é professor de história, assessor da Pastoral da Juventude e militante de movimentos sociais. Paulinho do Areal sempre esteve ligado às lutas populares. Membro, militante e líder da Pastoral da Juventude por cerca de 20 anos, serve-se da Fé como alimento para a prática que age na transformação da sociedade. Ao longo dessa caminhada de Fé e Participação frimou-se na convicção da Política como ferramenta, pertencente ao povo, para promover a ação transformadora. Após anos de Ação e Participação nos movimentos populares atuando nos grupos Juvenis, Movimento Negro, grupos de Fé, Política e Cidadania, Fóruns de Educação e Fóruns Sociais; Paulinho sempre acreditou que a força para a transformação está nas mãos do povo. Agora, quer estar a serviço da Comunidade Barrense, representando as lutas e anseios da população, na Câmara de Vereadores, com o firme propósito de exercer um Mandato Participativo, onde não haja distância entre representante e representados. Acreditando que não há ninguém mais indicado para saber o que é melhor para a sociedade do que a própria população que a compõe, Paulinho aposta num Mandato pautado pelas consultas populares e prestação de contas, aberto à novas ideias com a particpação de todos. Vamos juntos, Políticas públicas por uma cidade melhor!!! PAULINHO DO AREAL - 13.154

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Crônica de Leonardo Boff

A MÍDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA

Leonardo Boff

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco deser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente
o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usandoexclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regimeautoritário.

Esta história de vida, me avaliza para fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e
a mídia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral,decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial.
São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como“famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todoBrasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira.

Estes estão a serviço de um blocohistórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da
imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo
respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha. Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser
Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante,
conservadora ou liberal, foi sempre alienada, anti-progresssita, antinacional e não-contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na
periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.


Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coronéis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por
essa mídia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da mídia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a
melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas
desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituídas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas
importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se
torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a mídia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele
injusto, neocolonial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil
que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o
que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da mídia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construído
com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

*Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mutilaram o Estatuto da Igualdade Racial

As elites brancas e racistas do Brasil, inconformadas com as atuações do governo Lula em favor da população pobre brasileira, majoritariamente negra, se articulou sob a liderança do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) para impedir qualquer avanço social ou perspectiva de ascensão do negro.
Após oito anos de intensos debates, o Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), sofreu vergonhosos cortes e alterações que o descaracterizaram completamente, retirando todo o impacto positivo que a sua implementação provocaria na sociedade brasileira e, principalmente, na parcela auto declarada negra.
O projeto original do senador Paulo Paim prevê um conjunto de ações afirmativas para promover a igualdade racial no país e compensar os descendentes de africanos pelos quase quatro séculos de escravidão e 120 anos de toda sorte de discriminações. O texto, que apenas buscava reparar injustiças históricas, foi alvo da ação dos setores conservadores e racistas, sendo mutilado pelo relator no Senado. O parlamentar Demóstenes Torres já é conhecido por culpar os africanos pela escravidão e por afirmar, sem meios termos, que os estupros das mulheres negras pelos seus senhores eram relações consensuais.
É surpreendente que uma agremiação política auto-denominada Democrática se permita atuar de forma tão retrógrada num período pré-eleitoral, quando milhões de eleitores negros estão atentos às notícias veiculadas sobre os seus representantes no Congresso. O DEM assumiu o papel inequívoco de agremiação racista, pautada por uma política reacionária de negação de direitos e tentativas constantes de impedir qualquer melhora na condição econômica e social da parcela da população brasileira que têm nos seus ancestrais os responsáveis por toda a produção da riqueza nos primeiros trezentos e cinqüenta anos da história desse pais. Prova disso é que além de retirar a menção sobre raça, privou a negritude do sistema de cotas nas universidades e no mercado de trabalho, além de barrar a possibilidade de uma assistência nacional de saúde específica.
Ao votar o texto de Demóstenes no dia 16 de junho, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado virou Comissão de Injustiça ao achincalhar e depreciar o Estatuto da Igualdade Racial.
Ao ser totalmente descaracterizado, o projeto ficou praticamente sem qualquer efeito prático no sentido de mudar a situação dos negros brasileiros.
Diante disso, este é o momento de pressão da militância sindical, do movimento negro e do conjunto das organizações democráticas e populares da sociedade brasileira para que, após a sanção presidencial, seja reparada a injustiça com projetos de lei capazes de recompor os objetivos iniciais propostos pelo senador Paim.
Certamente a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, cuja criação deixa claro o comprometimento da CUT com a causa, permanecerá mobilizada e na linha de frente desta luta, que é de todos e todas, pois é inegável que a maioria da população deste pais tem o sangue negro correndo em suas veias.
Diante dos que buscam transformar esta nação, sob a força da chibata e da mordaça em um imenso navio negreiro, reiteramos a intransigente defesa do Estatuto da Igualdade Racial a partir dos moldes em que foi concebido e, portanto, da sua implementação integral. Zumbi está conosco, os feitores com eles.

Escrito por Maria Júlia Nogueira, secretária Nacional de Combate ao Racismo da CUT
30/06/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Nós os Escravocratas

Por Cristovam Buarque

Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos: o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em agir, pensador e ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no Brasil. Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: "Acabar com a escravidão não basta. É preciso acabar com a obra da escravidão", como lembrou na semana passada Marcos Vinicios Vilaça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras.

Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem acesso à educação de qualidade.

Ainda que não aceitemos vender, aprisionar e condenar seres humanos ao trabalho forçado pela escravidão - mesmo quando o trabalho escravo permanece em diversas partes do território brasileiro -, por falta de qualificação, condenamos milhões ao desemprego ou trabalho humilhante. Em 1888, libertamos 800 mil escravos, jogando-os na miséria. Em 2010, negamos alfabetização a 14 milhões de adultos, negamos Ensino Médio a 2/3 dos jovens. De 1888 até nossos dias, dezenas de milhões morreram adultos sem saber ler.

Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos escravocratas.

Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da família de uma criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala. Somos escravocratas porque, até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento decisivo para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos, escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.

Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos investimentos econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que foram deserdados do Ensino Médio completo com qualidade. Somos escravocratas de um novo tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.

A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o trabalho forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão ficou mais barata e o dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os sem educação.

Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.

Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos intelectuais e economistas comemoram minúscula distribuição de renda, como antes os senhores se vangloriavam da melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia da abolição plena.

Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução educacional que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a escravidão nos envergonhava e amarrava nosso avanço.

Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque continuamos escravocratas. E ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos condenados à falta de educação.

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Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF

Fonte: Artigo publicado no jornal O Globo de sábado, 30 de janeiro.

Fonte: Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal

sexta-feira, 12 de março de 2010

Cotas Racias nas Universidades!!!

Nunca tive dúvidas de que as sociedades evoluem com os governos, sem os governos, apesar dos governos ou mesmo contra os governos. Se o poder de turno estiver antenado com as aspirações nacionais, se tiver sensibilidade social e conseguir captar nos mínimos detalhes a mudança dos tempos, a virada dos ventos, a evolução do homem, a transformação das coisas, tanto melhor.
Na histórica fábula, o galo de Chantecler acreditava que o sol nascia somente depois que ele cantava. Até o dia em que ele, mudo, assistiu o mais belo alvorecer. O governo Lula instituiu a política de cotas raciais nas universidades brasileiras não só como resposta à uma exigência da evolução da sociedade, mas como reparação de injustiça histórica com nossos irmãos afrodescendentes e indígenas, por ter sensibilidade humana e social e por saber que seu sucesso vem da identidade que tem mantido com toda as camadas da sociedade brasileira.

Não só respeito como defendo o direito dos que não concordam com a política de cotas. Defendo de forma veemente o direito que cada cidadã ou cidadão tem de discordar de uma medida do governo do presidente Lula. Mas, com absoluta sinceridade, nesse caso, mesmo defendendo tal faculdade, tenho imensa dificuldade em compreender como se pode negar a quem tanto já sofreu – e ainda sofre, pois não? – tantas e odiosas formas de discriminação, o direito de ter acesso ao ensino superior e de ascender socialmente.
Não creio que seja uma forma de racismo discordar das cotas. Não chego a tanto. Sempre, até por minha formação democrática e socialista, aprendi a conviver fraternalmente com os opostos e estabelecer amizades duradouras e verdadeiras com pessoas que não pensam como eu. A intolerância, com a graça de Deus, não é o meu forte. E é por isso mesmo que defendo as cotas raciais e vejo nelas a possibilidade de reparar injustiças e relegar ao passado o debate em torno de uma questão espinhosa e nada grata a um país que demorou séculos para livrar-se da nódoa repulsiva da escravidão.

O Brasil tem uma dívida imensa com seus negros, seus indígenas, seus idosos, seus deficientes físicos. Por qual motivo não se podem reparar injustiças em relação a esses irmão que não foram senão discriminados? Que tiveram seus direitos negados parcialmente ou em sua totalidade ao longo de séculos? Por motivo nenhum!
A Universidade de Brasília (UnB), através a palavra de sua reitoria em recente audiência pública, mostrou que em 2001 apenas 2% de seus alunos eram negros. Hoje são 12,5%! E o desempenho da quase totalidade desses brasileiros afrodescendentes que chegaram à universidade através da política de cotas raciais empreendida pelo governo Lula é invejável! São estudantes que aproveitaram a possibilidade de estudo universitário com extraordinária seriedade e notório afinco. A vida universitária deles é o coroamento de uma atitude corajosa e necessária que somente um governo com raízes populares e sensibilidade social poderia ter tomado.

Em 60 universidades públicas brasileiras o sistema de cotas foi adotado de forma democrática, respeitando a autonomia de cada instituição, e com grande aceitação pela comunidade acadêmica. O Ministro Edson Santos, que desenvolve excepcional trabalho na pasta da Igualdade Racial, sempre relembra que não estão em jogo apenas as cotas para negros, mas as ações afirmativas do governo Lula em favor das mulheres, dos deficientes físicos e de outros segmentos sociais. Há mais em jogo: há futuro, igualdade, democracia e possibilidades.
Os Estados Unidos, a mais importante potência mundial, celebrou a eleição de Barack Obama para a Casa Branca por vários fatores: sua honradez pessoal, sua passagem brilhante pelo Senado norte-americano, as idéias inovadoras que defendeu na campanha que sacudiu o país, sua juventude e equilíbrio. Mas sua negritude foi elevada à condição de marco histórico e verdadeira revolução nos costumes políticos e sociais de um país que ainda luta contra resquícios de uma chaga que causou até mesmo uma guera civil do norte rico, progressista e anti-racista contra o sul atrasado e escravagista.
Se os norte-americanos entenderam que a eleição de um jovem negro para a Casa Branca, além de todos os seus méritos, simbolizava um basta ao racismo, então defendamos a política de cotas raciais nas universidades brasileiras como um marco na emancipação de uma imensa parcela do povo brasileiro, a de nossos compatriotas negros. Não sejamos hipócritas e sigamos o belo exemplo do povo norte-americano: o racismo se combate com atitudes concretas e com exemplos simbólicos.

Muito se dizia da democracia racial e da mistura de raças que forma esse país fascinante em que tivemos a graça divina de nascer. Mas existia um elevado grau de racismo que se manifestava de forma discreta mas efetiva, e na pior de suas formas: a segregação social. Eu mesmo creio que, hoje já não seja em grau tão elevado quanto foi no passado. A própria sociedade brasileira, em sua evolução segura rumo ao futuro de grandeza que a espera, se encarregou de eliminar muitos dos terríveis preconceitos que penalizaram esses segmentos sociais e nos envergonharam a todos. Mas, lamentavelmente, muita coisa ainda persiste e não vamos fechar os olhos para essa realidade.
Nélson Mandela pacificou a Africa do Sul quando, depois de décadas no cárcere, adentrou o estádio lotado para cumprimentar a seleção sul-africana de rúgbi, que vencia importante campeonato. Todos os atletas eram brancos, quase todos os que enchiam as arquibancadas eram brancos, mas o esporte era a paixão de todos em seu país. Em segundos, Mandela era ovacionado, era o verdadeiro campeão. Uniu seu país com o gesto generoso, com a grandeza de sua alma, com a dignidade de Estadista. Assisti o belíssimo filme “Invictus”, ao lado de Monica, minha mulher, onde o fabuloso Morgan Freeman interpreta Mandela e nos revela essa linda página da história do povo sul-africano. Recordei-me de nossos irmãos negros brasileiros e da generosidade que deve presidir as relações entre todos nós, qual seja a raça, pois nossa cor é uma só: a cor do Brasil, a cor do futuro.

(*) Delúbio Soares é professor

sábado, 10 de outubro de 2009

Para outra Humanidade, outra Comunicação..

Para outra Humanidade, outra Comunicação.

Ser pessoa é ser relação. Ser relação é ser comunicação. Somos sempre um “nós”. Viver é conviver. E conviver é comunicar-se

A capacidade de comunicação da Humanidade vai sendo cada vez mais universal e mais imediata, na medida em que a Humanidade vai-se sentindo mais “una” e são mais os meios de comunicação e sua técnica é mais criativa. As distâncias se encurtam e de todos os rincões da nossa casa comum, que é a Terra, podemos nos tornar presença sensível.

Mas sucede que, muito antes de inventar qualquer tipo de técnica de comunicação, a Humanidade já tinha inventado o egoísmo e a hybris da dominação e os recursos malignos da mentira.

Hoje o capitalismo neoliberal, prepotente e excludente, que se apodera de tudo para fazer de tudo mercado e lucro, tem se apoderado, quase totalmente, da comunicação. Quem tem o capital tem a comunicação e a manipula e a explora e distorce. Por cima de todas as fronteiras, atropelando os mais legítimos direitos, apoderando-se da verdade, impondo como única e universal “sua” verdade: o pensamento único, o único sistema sócio-econômico, uma história definida e inevitável.

Nós nos negamos a aceitar o jugo. Cremos, até pela mais entranhada necessidade, que outro mundo é possível. Queremos ser a Humanidade una, mas de outro modo, na liberdade e na igualdade, na convivência pacífica e na pluralidade complementar. A Humanidade neoliberalizada não encaixa em nossos sonhos nem encaixa nos desígnios de Deus. Somos, queremos, vamos fazendo, outra Humanidade.
Humanizar a Humanidade é a tarefa de toda educação, de toda comunicação, de toda política e toda religião que mereçam ser.

Antes falávamos dos meios de comunicação como sendo o “quarto poder”. Hoje temos que reconhecê-los como “o primeiro poder” em extensão e em penetração. Quem tem a comunicação tem o Mundo. Mc Luhan reconhecia que “não há equipe de sociólogos capaz de competir com as equipes de publicidade...” E esse poder está muito iniquamente repartido na “aldeia global da comunicação”. Segundo a UNESCO, na década dos 90, EUA, UE e Japão possuíam 273 dos 300 principais meios de comunicação; o resto do Mundo possuía apenas 27. De cada 100 usuários da Internet, 92 se encontram nos paises do Norte. E este processo de concentração mediática tem-se acelerado com o avanço da globalização. Na atualidade, umas poucas empresas dominam o mercado mundial das telecomunicações: ATT/Liberty Media, Disney, Time Warner, Sony, News Corporation, Viacom e Seagram, todas elas estadunidenses, além da alemã Bertelsman. (sem falar no domínio dos grupos monopolizadores no Brasil)

Poder perigoso, esse da comunicação, aliado às vezes direitamente com certos poderes de morte. As últimas guerras têm sido um repulsivo exemplo da maridagem das armas e a informação. E mais uma vez tem-se demonstrado que a verdade é a primeira vítima em uma guerra. Não há muito saltou também ao conhecimento público que Le Figaro e Le Monde, tradicionais jornais franceses, eram adquiridos por empresas cuja fortuna se baseia principalmente na fabricação de armas...

Livros, revistas, jornais, congressos, ONGs, multiplicam os alertas, as diatribes e os programas acerca da informação e desinformação, controle ou liberdade de comunicação, comunicação alternativa, alfabetização mediática crítica... “Democratizar a informação para democratizar a sociedade”. “Estamos sendo inoculados pelo vírus da amnésia”. “No fim do 2003, 42 jornalistas tinham tombado no mundo por tentar exercer sua missão”. “A segurança limita a informação”. “As armas da falsidade massiva”. “A informação tem-se transformado quase por completo em propaganda”. “Em teoria, justifica-se a publicidade afirmando que é pura informação; na realidade, é imposição”. “As coisas claras são a diferença entre a democracia e a ditadura”. “Construir a opinião pública”. “Limitações constitucionais à liberdade de informação, uso repressivo das leis, processos contra o segredo das fontes, estabelecimento de códigos éticos restritivos, os Patriot Acts..., são outras tantas espadas de Damocles oficiais sobre as cabeças dos comunicadores”. Quanto mais informação, mais possível desinformação, mais informação tergiversadora. O escritor estadunidense Timothy D. Allman chegou a afirmar: “Para saber o que se passa nos EUA tenho que ver a TV canadense”.

Para uma autêntica cidadania mediática, essa “outra Comunicação para outra Humanidade”, devemos impulsionar simultaneamente:

- A prática habitual da comunicação: consigo, com Deus, com o Universo, na família, na vizinhança, no trabalho, na luta e na festa, na vida. O ser humano é “o grande meio de comunicação”; depois vêm “os meios”.

- A conscientização.

- A educação responsável para a comunicação.

- A “leitura” crítica de toda informação.

- A criação de informação alternativa e o respaldo constante à mesma.

- A contestação organizada contra todo controle, monopólio ou mentira.

- O rechaço de todo imperialismo cultural.


E, todo dia, a partir do mais caseiro espaço de que dispomos até as crescentes grandes manifestações, exercer esse supremo dom humano da comunicação, na verdade, na compreensão, na solidariedade. Nos comunicar para nos conhecer. Nos comunicar para nos acolher. Nos comunicar para juntos nos salvar.

Esta reflexão abre alguns horizontes, aponta pistas, nos convida a ser e a fazer comunicação, a outra Comunicação que a outra Humanidade sonhada necessita.


D. Pedro Casaldáliga
(Bispo, Poeta, Mártir da vida)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

TEN - Teatro Experimental do Negro

TEN - Teatro Experimental do Negro

Com o TEN Abdias Nascimento buscou a inclusão do negro na esfera de criador cênico. Ao fundar o TEN – Teatro Experimental do Negro, em 1944, Abdias do Nascimento tinha por objetivo primordial inserir o negro no teatro brasileiro enquanto temática e, sobretudo, como criador cênico e intérprete dramático. Mais tarde, Abdias lembrou em um ensaio (“Teatro Negro no Brasil – Uma Experiência Sócio Racial”, Caderno Especial 2 da Revista Civilização Brasileira, 1968) que no século 18 a profissão do ator era considerada “desprezível, a mais vergonhosa de todas, abaixo das mais infames e criminosas”, sendo então permitido aos negros – e praticamente só aos negros – se dedicarem ao teatro. Consolidada a atividade teatral após a vinda da família real, no início do século 19, inverteu-se a situação: rapidamente o negro foi excluído da cena. Nas peças em que havia algum personagem negro, aparecia um branco com o rosto pintado, para interpreta-lo. Aos raros atores negros eram destinados papéis caricatos, de empregadinhos malandros, engraçados, inconseqüentes. Lembrou, também, a escassa presença de personagens negros na dramaturgia, a despeito da grande população negra e da sua importância no desenvolvimento sócio-cultural do país. O TEN estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a 8 de maio de 1945, com a peça de Eugene O´Neill "O Imperador Jones", direção de Abdias do Nascimento, cenários de Enrico Bianco e elenco encabeçado por Aguinaldo de Oliveira Camargo, cujo desempenho foi saudado pela crítica como excepcional. A falta de dramas nacionais adequados aos propósitos do grupo, levou à escolha de outra peça de O´Neill na temporada seguinte: "Todos os Filhos de Deus Têm Asas", apresentada no Teatro Fênix, em 1946, com direção de Aguinaldo Camargo, cenários de Mário de Murtas, lançando uma atriz que se firmaria entre as maiores do nosso teatro: Ruth de Souza. Ano seguinte, encenou o primeiro original brasileiro do seu repertório: "O Filho Pródigo", de Lúcio Cardoso, com cenários de Santa Rosa. Seguiu-se "Aruanda", de Joaquim Ribeiro, sinalizando um veio dramatúrgico de temática negro-africana no Brasil. Estes e os espetáculos que o Teatro Experimental do Negro produziu nos anos 50 e 60 marcaram pelo rigor estético e vigor dramático, constituindo um dado relevante não apenas à discussão das questões do negro brasileiro, mas à própria estética do teatro nacional. Além das produções cênicas, o Teatro Experimental do Negro promoveu seminários, encontros e publicações sobre o tema. No referido artigo publicado no Caderno Especial 2 da Civilização Brasileira, Abdias do Nascimento concluiu: “O Teatro Experimental do Negro é um processo. A Negritude é um processo. Projetou-se a aventura teatral afro-brasileira na forma de uma antecipação, uma queima de etapas na marcha da História. Enquanto o negro não desperta completamente do torpor em que o envolveram. Na aurora do seu destino, o Teatro Negro do Brasil ainda não disse tudo ao que veio”.